(Jundiaí, 1912) – Crítico de cinema, poeta e ensaista. Iniciou sua carreira de crítico cinematográfico na revista Clima, em 1941, e depois trabalhou nos jornais O Estado de São Paulo e Diário de São Paulo. Em 1949 organizou a Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e em 1956 tornou-se um dos fundadores da Cinemateca Brasileira, vindo a presidi-la desde a sua criação até 1974. É autor dos livros Espelho da Sedução (poemas, 1979) e Cinema e Verdade, este, publicado em 1988, reunindo suas críticas cinematográficas do período de 1949 a 1966. Grande parte dos seus poemas revelam o grande amor que tinha pela natureza, a qual homenageia mesmo nos versos em que fala de amor. Como nesse que segue, transcrito por José Renato Nalini em uma de suas colunas no Jornal de Jundiaí:
Aventura Panteísta
As árvores são magras
em face deste horizonte apenas pressentido.
A terra é leve
esvoaçando como a neblina o hálito da manhã.
Correm dos olhos da montanha
adormecida como um rosto,
rios sem curso, antes sonhos desfeitos do mar.
De repente, uma flor,
Como um grito suspenso
na boca ainda muda dos lábios,
no silêncio da palavra.
Musgos e limos me arrastaram
e, então, te vi, entre os liquens da gruta,
escancarada de súbito,
como o próprio suicídio da paisagem.
Não eras, naquele instante, mulher, o que só mais
[tarde descobri,]
mas olhos, pupilas, estanques e exangues
grávidas do silêncio das folhas esmagadas.
Por isso segui, conduzido
pelas bromélias esgarçadas,
que teciam o fio do caminho
e te arranquei da terra
como uma planta sofrida de raízes.
Hoje me olhas e embora
tua legenda se apagasse,
sob estas luzes,
às vezes me sinto cercado de árvores,
de águas e de treva,
quando me olhas.