(Jundiaí, 29/3/1929 +Jundiaí, 17/7/1988) – Músico e desenhista autodidata. Nome artístico: Nardinho. Filho de Deolinda Tereza e Antonio Scarpim. Desde os tempos em que estudou no Grupo Escolar Conde do Parnaíba, Nardinho teve verdadeira fissura pelo desenho e pela música, porém, tudo o que aprendeu dessas artes foi fruto de experiências pessoais, sem o auxílio de mestres. Para desenhar, ele utilizava o material que tivesse às mãos, desde tampas de caixas de sapatos e de camisas a papéis de embrulho e de calendários. Tornou-se, por outro lado, exímio cavaquinista e bandolinista, aprendendo e tocando um vasto repertório de chorinhos sem o auxílio de partituras. Nardinho fez parte do grupo Chorões do Japy, do Regional de Mário Mazzola e do Regional de Álvaro Vanzan, tocando ao lado de músicos como Rolando Hedlund (violão), José Afonso (Zé Coveiro, cavaquinho e violão), José Danon (violão de sete cordas), Augusto (violão de sete cordas), Iólice Romero (ritmista) e Cacilda Romero (vocal). Muitos dos seus desenhos – inclusive alguns produzidos em mesas e balcões de bares ou junto aos guichês da Viação Cometa e da Viação Capriolli (no tempo em que essas empresas tinham suas agências na Praça Governador Pedro de Toledo) – foram guardados por admiradores da sua arte. Em 1997, a cantora Cacilda Romero e o empresário Francisco Assis Oliva abriram suas coleções para homenagear o artista, realizando uma inusitada exposição de suas obras no Café Tequila. Em junho de 2005, outra mostra foi realizada no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, reunindo 65 trabalhos seus. No mesmo ano em que faleceu, o nome de Leonardo Scarpim foi lembrado para denominar uma travessa da Rua Lacerda Franco, na Vila Arens. Outra homenagem prestada a ele traduziu-se no seguinte poema, feito em Pequim (China) pelo jornalista Jayme Martins e de lá enviado para publicação no Jornal de Jundiaí:
Nardinho viveu e morreu
como um passarinho
Não foi à toa
que a música no ar
passou a soar
algo diferente.
Não era mais
um som do Oriente,
Liu De Hai, Ravi Shankar…
Agora tinha um sabor Brejeiro,
bem brasileiro,
Brasileirinho,
com Feitio de Oração,
Saudade de Matão,
Apanhei-te Cavaquinho…
Apurei então o ouvido
o quanto pude
para identificar aquela fonte
que, aos borbotões,
jorrava, Ao Luar,
o Som de Carrilhões,
de dez mil alaúdes…
E era simplesmente o Nardinho
baixando por aqui numa boa,
André de Sapato Novo em pessoa,
como se chegasse ao Birinaitis,
pisando em Chão de Estrelas distraído,
sem saber de onde vinha
nem pra onde havia partido,
a perguntar angelicalmente
pelos dois Jacós, o Benoit, o Pixinguinha,
o Riachão, o Juca, a Ruth, o Aquilino,
o Álvaro, o Netuno, mais o Altino,
sem esquecer o inseparável parceiro
de tantas festas e serestas ao violão,
o divino e sacrossanto Zecafonso,
ou melhor, o Zé Coveiro, meu irmão.
Foi o Nardinho querido
um músico cujo ser
era música só, e da boa.
O Nardo não era de tocar
coisinha à toa,
uma musiquinha qualquer.
Quando o Nardo tocava,
a gente não distinguia
onde o músico acabava
e a música nascia,
principalmente se a melodia
era o Despertar da Montanha,
Serra da Boa Esperança,
Flor do Abacate, Força Estranha,
Ave Maria no Morro, Chegança,
No Rancho Fundo,
Lampião de Gás,
Vagabundo,
Rapazinho do Brás,
Marina, Maringá, Doce de Coco,
Pedacinhos do Céu, Arranca Toco,
A Volta do Boêmio, Retalhos de Cetim,
Língua de Preto, Conversa de Botequim,
Manhã de Carnaval, Pelas Ruas que Andei,
Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda,
Tenho Horror de Lembrar que Te Amei…
Tocava de tudo o Nardinho,
a lista é infinda…
O Nardo se confundia com a própria música
e até com o instrumento que tocava,
sempre tão Carinhoso,
tão Delicado,
De Mansinho,
que nem percebíamos onde acabava o Nardo
e começava o banjo, o bandolim, o cavaquinho…
O Nardo era sempre por nós aqui,
mesmo em Pequim, muito lembrado
vivo qual um passarim,
seus dedos, brasas vivas,
tangendo mavioso bandolim
de madrepérolas incrustado,
tendo pro fundo um canteiro
forrado de sempre-vivas…
Agora,
depois de haver tocado,
com mil violões em funeral,
sua Serenata do Adeus,
seu Último Desejo
e Nada Além,
imaginamos o Nardo,
os dedos em descanso final
nas cordas de um cavaquinho,
sobre um Abismo de Rosas,
morto como um passarinho…
Mas, mesmo aqui do outro lado,
nesta distante Pequim,
a sua morte plangente,
tal qual o seu bandolim,
vai ficar para sempre
ecoando dentro de mim…