FERRAZ, BENEDITO DE GODOY

(Rio Claro-SP, 20/9/1889 +Rio de Janeiro, +13/2/1968) – Médico e poeta. Pseudônimo literário: B. Ferraz. Filho de Joaquina de Godoy e Joaquim Ferraz Júnior. Mudou-se para Jundiaí em 1898, quando seu pai fora transferido como contador da antiga Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Aos 12 anos, fazendo o gosto do pai, tornou-se também ferroviário.  Em 1904, depois de permanecer por quase três anos na repartição de Tráfego, foi transferido para a Contadoria da Estrada, onde passou a trabalhar sob supervisão direta do pai, que ali impunha a todos, sem exceção dos filhos, igual disciplina. Sonhando, porém, com um futuro diferente daquele que o pai lhe traçara, mas também não querendo contrariá-lo, Benedito passou a dedicar-se, às escondidas, aos estudos, custeando professores e comprando livros com o próprio ordenado. Não foi sem surpresa, portanto, que, seis anos mais tarde, veio o pai saber que ele acabara de conquistar o diploma de bacharel – título indispensável para ingressar numa universidade. Ante a sua propensão em seguir a carreira médica, evidenciada em uma carta escrita e entregue ao pai na própria repartição em que trabalhavam, em 19 de março de 1911 o pai autorizou-o a partir para o Rio de Janeiro, a fim cursar a Faculdade de Medicina. Próximo de concluir seus estudos médicos, em 1916, o jovem doutorando veio a revelar a sua vocação também para a poesia, fazendo publicar o livro Dentro de Um Sonho. No prefácio dessa obra, o escritor carioca Leôncio Correia comentou: “O seu engenho há de vencer a indiferença da época, como os raios de sol vencem, dourando e desfazendo as longas névoas das hibernais manhãs… Quem assim sente e sabe se exprimir, traz consigo o fogo sagrado, os cantares doces como os dos pássaros, perfumados como os beijos da brisa nas noites floridas, límpidos como um olhar de criança, dourados como uma aurora de maio. Felizes os que ainda podem atirar às aragens sonoras as canções de amor e os hinos dos seus sonhos. Amar é viver dentro de um sonho: o amor nasce do sonho, como da flor o fruto desabrocha. É na rede do sonho que o amor se embala (…)”. Nesse mesmo ano de 1916, Benedito obteve o seu diploma de Doutor em Ciências Médicas, com defesa da tese Aspectos das Meningopatias Sifílicas, aprovada com distinção e louvor por uma banca de examinadores em cuja presidência se encontrava o professor Aloísio de Castro. Ao regressar do Rio com seu diploma, constatou o jovem médico que não lhe seria fácil iniciar carreira em Jundiaí, face ao prestígio de que gozavam junto à população os médicos Francisco de Albuquerque Cavalcanti, Manuel Chrisóstomo de Almeida e Domingos Anastasio. Assim, resolveu ele tentar a clínica no distrito jundiaiense de Rocinha (atual Vinhedo), de onde, logo depois, partiria para Monte Alto, no interior paulista. A falta dos seus serviços em Jundiaí, contudo, seria sentida em 1918, quando da propagação da febre espanhola, e um chamado do Dr. Cavalcanti fez com que ele viesse auxiliá-lo no tratamento das pessoas acometidas pela doença que grassava em todo o Sul do País. Dominada e extinta a epidemia, tal era a soma de serviços e a competência demonstrada pelo antigo escriturário da Paulista que o próprio Dr. Cavalcanti exigiu da Sociedade Beneficente dos Ferroviários a permanência do Dr. Ferraz em seu quadro, como médico efetivo. Assim, continuou ele trabalhando ao lado do Dr. Cavalcanti até 1926, quando, na aposentadoria deste, assumiu a chefia clínica da recém-criada Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários. Em paralelo à atividade médica, prosseguiu, também, a sua lida na literatura, resultando de seus novos poemas o livro No Meu Silêncio, publicado em 1922 e dedicado por ele ao Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, entidade que, anos antes, ajudara a fundar. Outra parte dos seus escritos, incluindo, além de versos, diversas crônicas, veio à luz em 1976, no intitulado Viver, Sentir e Amar!, em cujo prefácio escreveu o acadêmico Austregésilo de Athayde: “O gênero, prosa e verso, dá a medida do seu valor intelectual, pois, exprimindo-se de uma maneira ou de outra, fá-lo com sentimento, profundeza filosófica e gosto artístico.” Entre esses dois volumes, mais precisamente em 1946, um outro foi escrito e publicado pelo Dr. Ferraz, sob o título Médico, Tua Missão é Curar!, no qual ele deixou gravados os seus princípios e conceitos sobre a atividade a que se dedicou com amor e devoção. Depois de aposentar-se na ferrovia, Dr. Ferraz voltou-se para a vida pública, elegendo-se, por duas vezes, Vereador e Presidente da Câmara Municipal. Ao deixar a política, transferiu-se para o Rio de janeiro, onde continuou exercendo a medicina, como clínico homeopata, até falecer.

Sugestões ao luar

Igual neve espalhada

Estende-se o luar

Sobre a aldeia cansada

A dormir e sonhar

Beijo de brisa esvoaça

Como esvoaçam abelhas;

Beijo de brisa passa

Passa beijando as telhas.

Longe canta o aldeão

Santa alegria inata,

O que de coração

Sente, o enleva e arrebata.

Naquela voz sincera

A ondular, ondular,

Vê-se que o amor impera

Fazendo-o assim cantar.

(Do livro Dentro de Um

Sonho, publicado em 1916)

Inimigas

Trago, constantemente, em cada braço,

Duas moças em minha companhia.

Inimigas pessoais, com embaraço

Vivo acalmando-as para que eu me ria.

E elas falam então a todo passo:

– Sou a tristeza…Chamo-me alegria…

Por que quer-me a primeira para o abraço

Sendo a segunda esquiva e fugidia?

E eu clamo, em vão: Se sempre juntas trago-as,

Alegra, entusiasma! É pouco, vibra!

Tristeza, não suporto as tuas mágoas

Clamo. Em vão é que clamo, com certeza.

– A alegria jovial que se não vibra,

Foge de mim fugindo da tristeza…

(Soneto de Godoy Ferraz publicado

no Almanaque de Jundiaí de 1928)

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EFEMÉRIDES
Em 26 de julho de ...
1892 Nascia em Jundiaí o professor João Duarte Paes.
1904 Nascia em Jundiaí a pianista Maria Paes Costa.
1906 Nascia em Jundiaí o ator João Saltori.
1926 Falecia em Jundiaí, aos 70 anos, Boaventura Mendes Pereira, chefe político na cidade.
1927 Nascia em Jundiaí o músico e compositor Eraldo Pinheiro dos Santos.
1962 Falecia em Jundiaí, aos 67 anos, o jornalista e dramaturgo José Aparecido Barbosa (Juquita Barbosa).
1969 Falecia em Jundiaí, aos 56 anos, o músico Antonio Carelli (Nhô Zinho).
1970 Nascia em Jundiaí a musicista Luciana Feres Naguno.
1982 Falecia em Campinas-SP o ferroviário e voluntário de causas sociais Vicente Breternitz.

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